Ontem, o dólar bateu impressionantes R$ 6,29, reafirmando a desvalorização contínua do real e os impactos econômicos que parecem invisíveis para quem continua a pensar: “Mas eu não recebo em dólar”. É uma visão confortável — e totalmente equivocada — que ignora a cadeia de dependências da economia brasileira frente ao mercado globalizado.
A influência da moeda norte-americana se manifesta no supermercado, na bomba de combustível e até no seu cafezinho. Produtos como carne, ovos, azeite e até chocolate têm seus preços pressionados pela inflação, que avança de mãos dadas com o custo de insumos importados. Afinal, mesmo que a produção seja nacional, o Brasil importa grande parte de fertilizantes, combustíveis e componentes industriais, todos precificados em dólar.
Além disso, o mercado financeiro reflete diretamente na diminuição do consumo das famílias, no crescimento das dívidas, e o poder de compra despenca. A taxa básica de juros, mantida elevada pelo Banco Central para tentar controlar a inflação, não só encarece o crédito, mas sufoca as perspectivas de crescimento econômico do país. Enquanto isso, o custo de vida dispara, transformando em ilusão a “picanha e cervejinha” da campanha eleitoral.
O dólar alto é mais que um número: é reflexo da desconfiança de investidores em relação à política econômica interna e à instabilidade política. A fragilidade fiscal do governo soma-se à pressão inflacionária, amplificando o impacto negativo no bolso do brasileiro. No cenário atual, o sonho de alívio econômico torna-se cada vez mais distante, sufocado pelo aumento generalizado dos preços.
A verdade é que, mesmo pra que você não receba em dólar, sua vida está diretamente conectada ao valor dessa moeda. A desvalorização do real significa transformar o arroz, o feijão e até o pão de cada dia em itens de luxo. Ignorar esse impacto é fechar os olhos para uma crise que está na mesa de todos, especialmente na dos que acreditam viver fora dessa realidade.
Por Thiago Reis