A obra de Orwell, 1984, parecia a profecia de um futuro distópico, um alerta sobre o que poderia acontecer em um regime totalitário onde todos eram vigiados e a verdade era manipulada pelo poder. Setenta e cinco anos depois da publicação dessa literatura profética, não é difícil identificarmos similaridades com a nossa realidade. Assim como Winston Smith, o personagem que ousava questionar o sistema, o brasileiro que se levanta para pensar ou se expressar, encontra uma vigilância constante, onde as liberdades individuais vêm sendo sistematicamente cerceadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Orwell escreveu sobre o “duplipensar”, essa habilidade de sustentar duas verdades opostas, e hoje parece que vivemos isso intensamente. A instituição que deveria proteger nossa Constituição, passou a subvertê-la de acordo com interesses políticos. E quem ousa discordar ou questionar a legitimidade dos iluminados da. suprema Corte, passa a ser tratado como inimigo do sistema. É uma ironia que, em nome da democracia, calem-se vozes – o mesmo princípio do Grande Irmão de Orwell. E assim vamos vendo o debate minguar, enquanto a Juristocracia se fortalece.
Mas de modo algum podemos esquecer que, mesmo diante desse cenário sombrio, o poder ainda emana do povo. Se nos resignamos, somos vítimas; se tememos, somos cúmplices. Em vez disso, precisamos exercer o papel que nos cabe como cidadãos. Não precisamos nem odiar, nem temer; precisamos lembrar que a liberdade precisa ser defendida diariamente, porque só ela garante que nossa voz seja ouvida.
Orwell alertou que “o homem é um lobo para o homem” porque, muitas vezes, escolhe ser “um carneiro”. Não somos ovelhas, e nossa democracia só se mantém enquanto tivermos coragem de nos opor ao silêncio que nos é imposto, enquanto estivermos prontos para recusar ser controlados, seja por quem for. Que o poder continue sendo do povo, e que cada um de nós carregue a responsabilidade de defendê-lo – não como vítimas, nem como carrascos, mas como cidadãos livres.
Por Thiago Reis